A exposição pública permanente Muz Yer, em Rennes, na França, convidou 8 arquitetos reconhecidos internacionalmente para projetar casas de pássaros que destaquem a relação entre a arquitetura contemporânea e a natureza. Cada casa serve como abrigo para uma ou mais das treze espécies de aves escolhidas pelo Comitê de Proteção dos Pássaros (Ligue pour la Protection des Oiseaux - LPO), e ajudará a conscientizar o público sobre o patrimônio arquitetônico de Rennes e sua ecologia urbana. A lista de arquitetos inclui Julien De Smedt Architects, ADEPT, a/LTA, Duncan Lewis, Marion Normand, Kengo Kuma & Associates, Tham & Videgard, e Dominique Perrault Architects & Gaëlle Lauriot-Prévost Design.
A exposição busca oferecer resposta a perguntas globais do tipo: Como fazer arquitetura hoje para atender necessidades do futuro? Quais novos usos podem melhorar nosso ambiente e promover a vida em grupo? Diante de desafios sociais, econômicos e ecológicos, como projetar as cidades e paisagens de amanhã?. As instalações são exibidas por uma rota de 8 km de espaços públicos que atravessam Rennes.
Conheça algumas das instalações e a história por trás de cada projeto, a seguir.
A Mansão dos Morcegos de Julien De Smedt Architects
O projeto é localizado no Parc des Gayeulles, próximo de lagos e florestas. Ao invés de construir uma casa para pássaros, o JDSA decidiu abordar a espécie "não amada": o morcego. Nessa área em particular, os ambientes para morcegos fazerem ninhos e se abrigarem são limitados, embora eles desempenhem um papel importante no funcionamento do ecossistema. O projeto da casa de morcegos segue uma pesquisa extensiva sobre os ninhos desses mamíferos; eles precisam de um área de pouso de onde podem escalar, normalmente em madeira bruta. Uma vez no lugar e na altura certa, eles podem migrar de uma célula para outra, dependendo do espaço e da temperatura.
ADEPT
Ao situar o projeto no meio da bacia da Praça André Malraux, a instalação é naturalmente protegida dos predadores pela água. O local permitiu que os arquitetos pudessem se libertar das amarras da altura enquanto tiveram a possibilidade de criar uma interação real entre os pássaros e a água. Em vez de tentar imaginar uma caixa de ninho dentro de um formato, a firma escolheu imaginar formas com caixas de ninhos. Ao empilhar e justapor os volumes ótimos para cada espécie, eles puderam criar várias tipologias por formas, alturas e aberturas. Cada uma das caixas abriga uma determinada espécie, e performa uma função específica na lagoa. Ao invés de estarem isoladas umas das outras, as tipologias estão agrupadas para criar um espaço comum a todos os habitantes da unidade.
Georges Star por a/LTA
A Georges Star é tanto uma redução quanto uma adaptação do icônico L'Etoile, um restaurante universitário no campus Beaulieu, construído pelo arquiteto Georges Maillols em 1963. Como foi explicado pela equipe, o formato, tratamento e cor o tornam um objeto "sofisticado e paradoxal. A cor azul é a RAL 7016 utilizada para placas de rodovias. O objeto monocromático e facetado é instalado em um mastro de seis metros de altura, e cria uma referência para a vizinhança, com seus grandes painéis de propaganda localizados nas redondezas do boulevard d'Armorique.
Wild & Raw por Duncan Lewis
Instalado em uma grande eucalipto nas pradarias de St. Martin, Wild and Raw consiste em três grandes estruturas ovóides feitas de palha, inspiradas por ninhos tecidos por aves específicas na África. Uma das principais inspirações por trás do design foi a Architecture Without Architects (Arquitetura Sem Arquitetos, 1964) de Bernard Rudofsky. Rudofsky desenvolveu a ideia de uma arquitetura projetada pelos usuários e para o arquiteto, essa foi a direção para a qual o mundo deve olhar hoje, reconciliando o ser humano e seu contexto, para aproximá-los. O arquiteto também se inspirou nos trançados feitos por pássaros da África do Sul para fazer abrigos coletivos entrelaçando todos os tipos de materiais naturais e sobras manufaturadas, como fios elétricos. Os ninhos adquirem a aparência de frutos que revelam a ingenuidade e a capacidade de adaptação dessas aves.
Skyline por Marion Normand
A instalação consiste em 30 unidades de ninhos feitas de granito e localizada no muro sudoeste de uma escola de arquitetura. Essa materialidade, que é Bleu de Lanhélin produzida por artesãos locais, foi escolhida principalmente por sua durabilidade, já que irá durar o bastante para encontrar seu lugar na paisagem e se misturar com a parede da escola. A instalação busca reproduzir o horizonte de uma cidade, mas em uma escala reduzida. Ela inclui cinco tipos de caixas para ninhos espaçadas por interstícios. Cada uma delas obedece a critérios dados pela LPO, como diâmetro dos buracos e as dimensões gerais a depender de cada espécie.
Floresta Dançante por Kengo Kuma and Associates
O formato e a implementação dessa casa de pássaros busca receber e saudar as espécies locais das margens do rio. De acordo com o arquiteto, "o papel da arquitetura é integrar esses elementos para nos aproximar da natureza e facilitar sua percepção. Se construirmos bem, podemos sentir a natureza mesmo na cidade densa". A instalação é uma composição que expressa a ideia de movimento que é organicamente presente na natureza. O arquiteto também explorou uma técnica japonesa chamada "Yakisugi" (cedro queimado) que protege e sustenta a madeira ao queimar sua superfície ao invés de tratá-la quimicamente. A reunião de peças de madeira é fundamentada no princípio da "tensegridade". O material fino age em tensão enquanto o material mais grosso atua na compressão. Essa distribuição de forças equilibra a estrutura. Como na tradição japonesa, esse método de construção utiliza pedaços finos de madeira, o que gera um efeito de transparência e leveza.
Y’oiseau por Dominique Perrault Architect & Gaëlle Lauriot-Prévost Design
12 mastros são colocados em uma pequena clareira em frente ao salão de ZAC de la Courrouze, na região sudoeste de Rennes. Os mastros compõe uma pequena floresta, um conjunto de elementos finos e flexíveis que se destacam e balançam ao vento. Dominique Perrault e Gaëlle Lauriot-Prévost imaginaram uma instalação viva com várias referências artísticas à arte conceitual e minimalista, móbiles cinéticos e esculturas musicais. A casa de pássaros apresenta um design muito simples, criado a partir de materiais perenes, aço inoxidável e cerâmica esmaltada.
A Muz Yer é um projeto iniciado e desenvolvido por Gwénaël Le Chapelain, arquiteto associado com agência a/LTA e presidente do architect associated with MG endowment fund. O MG endowment fund é uma organização sem fins lucrativos que se foca no desenvolvimento e na disseminação da prática arquitetônica e artística. A organização baseada em Rennes promove projetos culturais em cruzamentos entre artes e arquitetura, oferecendo pesquisa, criação, organização de eventos, edição e publicação de obras, desenvolvimento de comunicação, disseminação e conscientização de ferramentas e ações. Como prioridade, desenvolve projetos que promovem o território bretão, sem se limitar ao seu âmbito geográfico.
Uma exposição de croquis e modelos feita pelas oito firmas de arquitetura viajará em breve por toda a França.
